No Tabuleiro da Vida
SILVA, Catarina*
Ao
discorrer meu olhar sobre o tema em questão, despertou em mim grande interesse
e vontade em ler o livro. Ao iniciar a leitura fui descobrindo que se tratava
de artigos acadêmicos de diversos autores, que estudando e pesquisando
verificaram e constataram a necessidade de apresentar experiências e propostas
ao estudo das questões da africanidade em nosso Estado.
O livro
é o resultado de uma proposta do núcleo de estudos sobre Educação, Gênero, Raça
e Alteridade-Negra –UNEMAT, juntamente com a Secretaria de Estado de Educação
de Mato-Grosso com o objetivo de reunir algumas pesquisas sobre relações
raciais e educação realizadas na rede pública de ensino.
A
aplicabilidade da Lei 10.639/03 nos abre para a discussão e reflexão sobre a história do negro em
Mato-Grosso, colaborando e auxiliando professores na investigação e organização
de conteúdos curriculares sobre a história afro-brasileira em Mato-Grosso.
Em |”No
tabuleiro da Negra: Cotidiano da população negra na Vila Bela seticentista
(1772-1789)” João Bosco da Silva aborda o cotidiano dos negros e sua
importância na formação de Vila Bela, enfocando o trabalho da mulher negra no
período da escravidão, demonstrando a mobilidade social das negras e sua
importância para a formação do núcleo urbano de Vila Bela. Vejo que a mulher negra
era muito astuciosa ao saber lidar com a situação que permeava sobre a sociedade
escravagista, extremamente machista e preconceituosa, no momento em que ela se
presta ao papel do chamado negras de tabuleiros.
" A presença dessas mulheres era constante nas
vilas e cidades coloniais e fazia parte do cenário de tais ambientes urbanos.
Garantindo sua sobrevivência e porque não imaginar certa ascensão social,
econômica, livrando-se com essa atividade da pobreza extrema que muitos viviam
nas regiões mineradoras." (Vieira (orgs) p.22).
Embora o negro tenha sido por muito tempo considerado
uma mercadoria não podemos negligenciar sua importância não só como mão de obra
para atender as mais variadas necessidades, mas também no momento em que
desenvolveram maneiras de agir, pensar e criar formas e espaços de superar suas
dificuldades, ai que percebo os espaços para discutir ideias e sobrevivência,
nas quais traçavam planos e estratégias para organizarem fugas e formar
quilombos.
A
autora Ângela Maria dos Santos em seu texto “Da Teoria do Branqueamento às
Relações Étnico-Raciais no Cotidiano Escolar” faz um trajeto do comportamento
racial brasileiro, com enfoque na política de branqueamento e suas
estruturações no processo de educação formal, como as ideias racistas se
apresentam nas interações sociais no contexto escolar. Finaliza apresentando
ações para mudanças na prática pedagógica do professor. É importante lembrar
que as teorias racistas adentram no país no período escravagista, mas é após
abolição que elas se apresentam como política nacional, estruturando o
pensamento racial brasileiro, a partir do ideal de branqueamento.
O
quadro das desigualdades étnico-raciais na educação, normalmente indica as influências
do racismo existente na sociedade e presentes nos espaços escolares, que fazem
com que os alunos negros sofram interferências negativas na construção de sua
identidade. Cabe a nós fazermos os enfrentamentos dessa realidade através de
uma educação antirracista que inclua a diversidade cultura afro-brasileira,
conforme a Lei 10.639/03.
“No processo de ensino-aprendizagem na educação
básica, incluindo a africanidade deve ser trabalhado de forma interdisciplinar
e aprofundado progressivamente conforme cada ciclo ou série. As temáticas que
visam a inclusão étnico-racial enquanto conhecimento científico advindo das
heranças culturais e filosóficas africanas e afro-brasileiras deve ser abordado
nas Ciências Sociais e Humanas, na área da Linguagem e nas Ciências Naturais”. (op. cit.p 48. )
É importante então, que todo professor tenha conhecimento
da necessidade de se estudar a Lei 10.639/03, para garantir a inclusão da
diversidade e a eficácia de uma educação permanente do aluno negro nas escolas
de Mato-Grosso.
“Desafios
no Universo das Relações Étnico-Raciais: A História da África e de
Afro-brasileiros no Ensino Superior em Mato-Grosso”, a autora Nauk Maria de Jesus trabalha com uma
pesquisa acerca do ensino da história da África na Universidade realizada com
acadêmicos do curso de história (UFMT/UNEMAT) que desconhecem a Lei 10.639.
Dessa forma a mesma apresenta algumas informações de pesquisas realizadas sobre
a história do negro em Mato-Grosso, discorrendo sobre a história dos movimentos
Negro no país desde a década de 1950 aos dias atuais, onde destaca a
importância do movimento Negro na inclusão da disciplina de história da África
I e II como obrigatória no ano de 2006 na Universidade Federal de Mato-Grosso
(UFMT), no campus de Rondonópolis, observando que essa inclusão foi também
pressão do movimento negro. Já na Universidade do Estado de Mato-Grossso
(UNEMAT) a disciplina de História da África aparece em 2007 no quadro de
disciplina optativa, tendo sido ministrada entre 2002 e 2007 apenas uma vez. No
processo de reforma da matriz curricular (2007) os professores do Departamento
de História aprovaram a inclusão de História da África 1 e 2 como disciplina
obrigatórias.
Entre
os anos de 2006/2 e 2007/2, um total de aproximadamente 75 alunos, de três
diferentes turmas que cursaram a disciplina de Estágio Supervisionado em Ensino
de História II, desconheciam a Lei 10.369/03 e as Diretrizes. Essa constatação
foi feita a partir de sondagens realizadas nos primeiros dias de aulas com os
alunos da disciplina. Notou-se como a
universidade e as escolas precisam atuar de maneira conjunta, com apoio e
investimento dos governos federal, estadual e municipal. Além disso, é preciso
superar o distanciamento entre a produção acadêmica e o saber escolar, embora
muito da História africana e dos afro-brasileiros ainda está por ser
descortinada, já que amplo é o rol de conteúdos propostos pelas Diretrizes.
Relações Raciais na Escola: Percepções das Famílias Negras. Ivone Jesus
Alexandre. Aborda as relações raciais no cotidiano escolar, através de
entrevistas com pais e professores com a pretensão de analisar a percepção dos
pais sobre as relações raciais entre seus filhos e os colegas, de uma maneira
que possa compreender como os pais percebem o papel dos professores e da escola
na questão racial. O estudo verificou a ocorrência e a frequência da
discriminação racial entre alunos negros e brancos, bem como analisou como é
percebido pelos pais as relações dos filhos com os colegas no espaço escolar, o
grau de discriminação ocorrida a partir da cor da pele, como a escola intervém
em situações de conflitos e se existe descriminação racial no espaço escolar.
Os pais entrevistados relataram que percebem o sofrimento de seus filhos com as
ofensas raciais, porém todos reconhecem a importância dos estudos, pelo qual
possibilita para muitos um lugar melhor no mundo.
“....os alunos negros sofrem com situações de
descriminações racial e os/ as professores/ as não conseguem dar um trabalho
pedagógico à questão; os pais embora percebam a problemática, não reagem
eficazmente diante da discriminação sofrida pelos seus filhos na escola; o
ambiente escolar é desfavorável à afirmação da identidade de criança negra;
existem insegurança e contradição do profissional da educação em abordar as
temáticas relativas às questões raciais; e falta de formação dos/ as
educadores/ as para tratar a temática racial...””( op.
cit. p.11.)
Acredito que a carência de registros de estudos realizado nas escolas,
em torno do tema africanidades em Mato-Grosso é muito grande, necessitamos de
concretizar nossas atividades diárias, compartilhar com a comunidade como um
todo para amenizar o problema que gira em torno do preconceito com relação ao
negro. Quanto a desconstrução da discriminação com relação ao negro nos livros
didáticos ainda permanece, principalmente quando se refere a família, não
existe família negra. Induzem a criança a pensar que a raça branca é mais
bonita, tratam de índios e negros como se já não existissem embora alguns
livros apresentam dados estatísticos de interesse governamental. Todos em sua
maioria limitam-se sobre as contribuições dos povos africanos e indígenas na
formação, social, política e intelectual do país.
Com a
publicação da Lei nº 10.639/03, o Conselho Nacional de Educação aprovou o
Parecer nº 003/2004, que institui as diretrizes Curriculares para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras e
Africanas a serem trabalhadas pelos estabelecimentos de Ensino de diferentes
níveis e modalidades, cabendo aos sistemas de ensino, âmbito de sua jurisdição,
orientarem e promoverem a formação de professores e supervisionarem o
cumprimento das diretrizes. A partir da aprovação e da divulgação de tais
documentos oficiais, o estudo da História e da Cultura da África e
Afro-brasileira passou a ser analisado sob outra perspectiva e por conseguinte
a discussão sobre as relações étnico-raciais ocupou lugar de destaque.
Percebe-se que o país tem uma vasta
legislação no que se refere ao estudo da história do povo negro, seus
descendentes e suas relações no meio social em que estão inseridos, entretanto
ainda persiste em nossa sociedade um imaginário coletivo os grupos e os valores
oriundos do mundo ocidental, pouco valorizado os saberes dos povos com outras
raízes culturais, como a africana e indígena. A Lei nº 11.645/08 torna
obrigatóriio o estudo da Cultura Afro-brasileira e Indígena nas escolas de
Ensino Fundamental e Médio, Público e Particulares de todo Brasil.
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