segunda-feira, 1 de julho de 2013

No Tabuleiro da Vida


No Tabuleiro da Vida

SILVA, Catarina*

 

         Ao discorrer meu olhar sobre o tema em questão, despertou em mim grande interesse e vontade em ler o livro. Ao iniciar a leitura fui descobrindo que se tratava de artigos acadêmicos de diversos autores, que estudando e pesquisando verificaram e constataram a necessidade de apresentar experiências e propostas ao estudo das questões da africanidade em nosso Estado.

         O livro é o resultado de uma proposta do núcleo de estudos sobre Educação, Gênero, Raça e Alteridade-Negra –UNEMAT, juntamente com a Secretaria de Estado de Educação de Mato-Grosso com o objetivo de reunir algumas pesquisas sobre relações raciais e educação realizadas na rede pública de ensino.

         A aplicabilidade da Lei 10.639/03 nos abre para a discussão  e reflexão sobre a história do negro em Mato-Grosso, colaborando e auxiliando professores na investigação e organização de conteúdos curriculares sobre a história afro-brasileira em Mato-Grosso.

          Em |”No tabuleiro da Negra: Cotidiano da população negra na Vila Bela seticentista (1772-1789)” João Bosco da Silva aborda o cotidiano dos negros e sua importância na formação de Vila Bela, enfocando o trabalho da mulher negra no período da escravidão, demonstrando a mobilidade social das negras e sua importância para a formação do núcleo urbano de Vila Bela. Vejo que a mulher negra era muito astuciosa ao saber lidar com a situação que permeava sobre a sociedade escravagista, extremamente machista e preconceituosa, no momento em que ela se presta ao papel do chamado negras de tabuleiros.

" A presença dessas mulheres era constante nas vilas e cidades coloniais e fazia parte do cenário de tais ambientes urbanos. Garantindo sua sobrevivência e porque não imaginar certa ascensão social, econômica, livrando-se com essa atividade da pobreza extrema que muitos viviam nas regiões mineradoras." (Vieira (orgs) p.22).

Embora o negro tenha sido por muito tempo considerado uma mercadoria não podemos negligenciar sua importância não só como mão de obra para atender as mais variadas necessidades, mas também no momento em que desenvolveram maneiras de agir, pensar e criar formas e espaços de superar suas dificuldades, ai que percebo os espaços para discutir ideias e sobrevivência, nas quais traçavam planos e estratégias para organizarem fugas e formar quilombos.

         A autora Ângela Maria dos Santos em seu texto “Da Teoria do Branqueamento às Relações Étnico-Raciais no Cotidiano Escolar” faz um trajeto do comportamento racial brasileiro, com enfoque na política de branqueamento e suas estruturações no processo de educação formal, como as ideias racistas se apresentam nas interações sociais no contexto escolar. Finaliza apresentando ações para mudanças na prática pedagógica do professor. É importante lembrar que as teorias racistas adentram no país no período escravagista, mas é após abolição que elas se apresentam como política nacional, estruturando o pensamento racial brasileiro, a partir do ideal de branqueamento.

         O quadro das desigualdades étnico-raciais na educação, normalmente indica as influências do racismo existente na sociedade e presentes nos espaços escolares, que fazem com que os alunos negros sofram interferências negativas na construção de sua identidade. Cabe a nós fazermos os enfrentamentos dessa realidade através de uma educação antirracista que inclua a diversidade cultura afro-brasileira, conforme a Lei 10.639/03.

 

“No processo de ensino-aprendizagem na educação básica, incluindo a africanidade deve ser trabalhado de forma interdisciplinar e aprofundado progressivamente conforme cada ciclo ou série. As temáticas que visam a inclusão étnico-racial enquanto conhecimento científico advindo das heranças culturais e filosóficas africanas e afro-brasileiras deve ser abordado nas Ciências Sociais e Humanas, na área da Linguagem e nas Ciências Naturais”. (op. cit.p 48. )

É importante então, que todo professor tenha conhecimento da necessidade de se estudar a Lei 10.639/03, para garantir a inclusão da diversidade e a eficácia de uma educação permanente do aluno negro nas escolas de Mato-Grosso.

         “Desafios no Universo das Relações Étnico-Raciais: A História da África e de Afro-brasileiros no Ensino Superior em Mato-Grosso”,  a autora Nauk Maria de Jesus trabalha com uma pesquisa acerca do ensino da história da África na Universidade realizada com acadêmicos do curso de história (UFMT/UNEMAT) que desconhecem a Lei 10.639. Dessa forma a mesma apresenta algumas informações de pesquisas realizadas sobre a história do negro em Mato-Grosso, discorrendo sobre a história dos movimentos Negro no país desde a década de 1950 aos dias atuais, onde destaca a importância do movimento Negro na inclusão da disciplina de história da África I e II como obrigatória no ano de 2006 na Universidade Federal de Mato-Grosso (UFMT), no campus de Rondonópolis, observando que essa inclusão foi também pressão do movimento negro. Já na Universidade do Estado de Mato-Grossso (UNEMAT) a disciplina de História da África aparece em 2007 no quadro de disciplina optativa, tendo sido ministrada entre 2002 e 2007 apenas uma vez. No processo de reforma da matriz curricular (2007) os professores do Departamento de História aprovaram a inclusão de História da África 1 e 2 como disciplina obrigatórias.

         Entre os anos de 2006/2 e 2007/2, um total de aproximadamente 75 alunos, de três diferentes turmas que cursaram a disciplina de Estágio Supervisionado em Ensino de História II, desconheciam a Lei 10.369/03 e as Diretrizes. Essa constatação foi feita a partir de sondagens realizadas nos primeiros dias de aulas com os alunos da disciplina.  Notou-se como a universidade e as escolas precisam atuar de maneira conjunta, com apoio e investimento dos governos federal, estadual e municipal. Além disso, é preciso superar o distanciamento entre a produção acadêmica e o saber escolar, embora muito da História africana e dos afro-brasileiros ainda está por ser descortinada, já que amplo é o rol de conteúdos propostos pelas Diretrizes.

          Relações Raciais na Escola: Percepções das Famílias Negras. Ivone Jesus Alexandre. Aborda as relações raciais no cotidiano escolar, através de entrevistas com pais e professores com a pretensão de analisar a percepção dos pais sobre as relações raciais entre seus filhos e os colegas, de uma maneira que possa compreender como os pais percebem o papel dos professores e da escola na questão racial. O estudo verificou a ocorrência e a frequência da discriminação racial entre alunos negros e brancos, bem como analisou como é percebido pelos pais as relações dos filhos com os colegas no espaço escolar, o grau de discriminação ocorrida a partir da cor da pele, como a escola intervém em situações de conflitos e se existe descriminação racial no espaço escolar. Os pais entrevistados relataram que percebem o sofrimento de seus filhos com as ofensas raciais, porém todos reconhecem a importância dos estudos, pelo qual possibilita para muitos um lugar melhor no mundo.

 

“....os alunos negros sofrem com situações de descriminações racial e os/ as professores/ as não conseguem dar um trabalho pedagógico à questão; os pais embora percebam a problemática, não reagem eficazmente diante da discriminação sofrida pelos seus filhos na escola; o ambiente escolar é desfavorável à afirmação da identidade de criança negra; existem insegurança e contradição do profissional da educação em abordar as temáticas relativas às questões raciais; e falta de formação dos/ as educadores/ as para tratar a temática racial...””( op. cit. p.11.)

          Acredito que a carência de registros de estudos realizado nas escolas, em torno do tema africanidades em Mato-Grosso é muito grande, necessitamos de concretizar nossas atividades diárias, compartilhar com a comunidade como um todo para amenizar o problema que gira em torno do preconceito com relação ao negro. Quanto a desconstrução da discriminação com relação ao negro nos livros didáticos ainda permanece, principalmente quando se refere a família, não existe família negra. Induzem a criança a pensar que a raça branca é mais bonita, tratam de índios e negros como se já não existissem embora alguns livros apresentam dados estatísticos de interesse governamental. Todos em sua maioria limitam-se sobre as contribuições dos povos africanos e indígenas na formação, social, política e intelectual do país.

        Com a publicação da Lei nº 10.639/03, o Conselho Nacional de Educação aprovou o Parecer nº 003/2004, que institui as diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras e Africanas a serem trabalhadas pelos estabelecimentos de Ensino de diferentes níveis e modalidades, cabendo aos sistemas de ensino, âmbito de sua jurisdição, orientarem e promoverem a formação de professores e supervisionarem o cumprimento das diretrizes. A partir da aprovação e da divulgação de tais documentos oficiais, o estudo da História e da Cultura da África e Afro-brasileira passou a ser analisado sob outra perspectiva e por conseguinte a discussão sobre as relações étnico-raciais ocupou lugar de destaque.
         Percebe-se que o país tem uma vasta legislação no que se refere ao estudo da história do povo negro, seus descendentes e suas relações no meio social em que estão inseridos, entretanto ainda persiste em nossa sociedade um imaginário coletivo os grupos e os valores oriundos do mundo ocidental, pouco valorizado os saberes dos povos com outras raízes culturais, como a africana e indígena. A Lei nº 11.645/08 torna obrigatóriio o estudo da Cultura Afro-brasileira e Indígena nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, Público e Particulares de todo Brasil.

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