EDUCOMUNICAÇÃO: prática emancipatória
“O conjunto das
ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos,
programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos
em espaços educativos, para melhorar o coeficiente comunicativo das ações
educativas, desenvolver o espírito crítico dos usuários dos meios massivas,
usar adequadamente os recursos da informação nas práticas educativas, e ampliar
a capacidade de expressão das pessoas.” SOARES(2002)
Mídia: espaço de domesticação dos corpos
Não é novidade nenhuma dissertar sobre a mídia na contemporaneidade e
como a evolução tecnológica propicia a aceleração e inovação dos suportes
midiáticos. Dada essa imensa produção, a mídia exerce cada dia mais influência
sobre a vida cotidiana das pessoas, fato este que pode ser observado em
diversas práticas do dia a dia.
Neste sentido, queremos evidenciar que a mídia, em particular, a mídia
impressa, por meio do discurso jornalístico (doravante DJ), passa a gerenciar
um acontecimento discursivo através da materialização dos textos que o DJ faz
circular. Ao proceder desta forma, a mídia impõe a dado acontecimento
discursivo gestos de interpretação que levam ao sentido único, ou seja, com a materialização
linguística, a imprensa e os demais segmentos midiáticos passam a gerir e controlar os acontecimentos
discursivos, construindo, assim, relações de poder e verdade. Sobre isso,
Acreditamos
que assim, como o discurso científico, o discurso midiático não é imparcial e
não consegue reproduzir precisamente o real, mesmo que se declare, vez ou
outra, meramente em transmitir – transparentemente- a verdade. Os discursos da
mídia mostram-se também impregnados, como todo discurso, de equívoco e
distorções. Uma vez que os discursos são suscetíveis a falhas e a equívocos,
alguns saberes divulgados pela mídia irão ser legitimados como verdadeiros,
enquanto outros não.
Para
que seja possível, então, compreendermos um pouco melhor os mecanismos do
discurso jornalístico que ajudam a legitimar o verdadeiro de cada época, a
mídia é tratada como uma máquina que seleciona, copia, edita, regula os saberes
para que se tornem verdadeiros e se integrem à “ordem do discurso”. E as
pessoas em geral, e as instituições de poder, em específico, vêem nesses
“saberes verdadeiros” aquilo que precisa ser oficializado e legitimado,
passando assim a se tornar poder e desfrutar dos privilégios sociais. (GÓIS,
2007, p.78-79)
Conforme Góis (2007), na construção dessas
relações, o campo midiático, lançando mão do DJ, tenta “vender” um ethos de imparcialidade. No entanto,
sabemos que o jornalista não pode falar como quiser, pois há regras coercivas
dos dizeres da instituição jornalística, da formação discursiva da qual faz
parte, de gênero, de espaço de circulação dos discursos. São esses elementos
que irão determinar o que pode ou não enunciar num dado espaço e tempo. Em
decorrência desse lugar social em que se inscreve, para poder organizar o seu
discurso, o jornalista deixa vestígios na materialidade linguística das cargas
ideológicas características da FD e/ou FDs que pertence, o que desmascara a
imparcialidade que tanto conclamam.
O ponto mais importante que queremos levantar é que a mídia, como
outras instituições sociais: escola, igreja, Estado etc., por meio da
organização de seus discursos, exercesse (des)mascaradamente mecanismos de
controle dos sentidos, onde o “real/ verdadeiro” se constrói por intermédio
dela.
Funcionando como uma máquina autorizada a construir “o sentido”, a
mídia ao discursivizar sobre o acontecimento “desenvolvimento sustentável”
passa a exercer aquilo que Foucault chama de biopoder, tecnologia de poder que
visa a gerir o corpo social. Assim, a mídia enquanto construtora de imagens
simbólicas, segundo Gregolin (2003) “participa ativamente, na sociedade atual,
da construção do imaginário social, no interior do qual os indivíduos
percebem--se em relação a si mesmos e em relação aos outros”. Neste prisma, o
mecanismo de poder sobre a significação objetiva controlar e gerir um sentido
que seja coletivo, organizando os corpos em processos biológicos de conjunto:
o
biopoder funda mecanismos cujo alcance é global e que levam em conta “a vida,
os processos biológicos do homem-espécie” e asseguram “sobre eles não uma
disciplina, mas uma regulamentação”. É um poder regulamentador, contínuo, que
faz viver e deixa morrer, um poder que controla os eventos fortuitos e, sempre
que possível, busca meios de modificá-los. (FOSSEY, 2011, p.33)
Diante do exposto, cremos que o
campo midiático é sem dúvida nenhuma uma instância, onde se instaura práticas
de saber e poder, pois os sentidos dados por ela a determinado fenômeno
discursivo deve ser absorvido pelos sujeitos como verdade. Logo, a
interpretação é reorganizada conforme os critérios e aos padrões da FD
midiática. Queremos, com isso, concordar com Krieg-Planque (2010) quando afirma
que na organização de seus discursos os jornalistas constroem o espaço público
e nessa construção há uma perpetuação de relações de poder e opinião, quando
sustentam o ponto de vista dominante, legitimando um espaço de verdade, mesmo
carregado de interpretações e significações diversas.
Pensando nisso, acreditamos que a escola torna-se
um dos espaços para discussão, análise e por que não de produção de discursos midiáticos, no sentido de por em
evidência diferentes saberes dialogando entre si, e mais ainda, lugar para
colocar em evidência a voz do aluno que quase sempre é silenciada. Queremos com
isso desnaturalizar/ desconstruir no âmbito escolar uma única via
autoral, melhor dizendo, consolidar práticas educomunicativas que por sua
própria essência busca fortalecer ecossistemas comunicativos.* (do conceito de ecossistema
desenvolvido pela Biologia, é importante ressaltar a relação de trocas, de interdependência
entre os seres diferentes, que acontece em variados níveis; e do fato de que
ecossistemas maiores podem conter ecossistemas menores)
Para tanto, o conceito de
Educomunicação é entendido na perspectiva da gestão comunicativa “ a organização
do ambiente, a disponibilidade dos recursos, o modus faciend dos sujeitos
envolvidos e o conjunto das ações que caracterizam determinado tipo de educação
comunicacional.” (Soares, p.8). Nesse sentido, a escola ao tomar para si uma
visão educomunicativa, passa a fomentar diariamente experiências culturais heterogêneas,
onde as novas tecnologias da informação e da comunicação, configuram um espaço
educacional como lugar em que o processo de aprendizagem conserva seu encanto.
Parafraseando aqui Soares que diz da necessidade
da criação de verdadeiros ecossistemas comunicativos, nos espaços educativos,
espaços que cuidem da saúde e do bom fluxo das relações entre as pessoas e os
grupos humanos, bem como do acesso ao uso adequado das tecnologias da
informação por todos que participam do processo educomunicativo.
Diante do exposto, asseveramos da importância
do projeto à Comunidade escolar para que a comunicação aconteça num viés
educomunicativo, para que todos interajam de forma participativa, ativa e mais
emanciapatória.
OBJETIVO
- Criar e fortalecer ecossistemas comunicativos no
espaço escolar, por meio de uma gestão participativa.
METODOLOGIA
Conforme
salienta Soares em “Novas Tecnologias de
informação e comunicação em redes educativas” que não se pode confundir
procedimentos educomunicativos do projeto Educom.rádio com a didática própria da produção de
programas de rádio com o uso de gravadores de mão, para ele seria reducionismo
pensar que só a oficina representa o projeto na sua integridade. Afirma ainda
que é justamente o fato da educomunicação apresentar-se como uma filosofia de
trabalho mais do que como uma metodologia de ação específica, que o projeto
permanece na rede, apesar da descontinuidade no processo de formação, regulamentado
em lei em dezembro de 2005. Desta forma nosso trabalho tem como propósito
tornar-se também não sabemos se uma filosofia, assim como pensa Soares, mas
como uma postura dialógica entre os pares, que descentralizem as vozes,
contribuindo para relações que busquem equilíbrio e harmonia neste ambiente em
que convivem diferentes atores, para que esse possam interagir no mundo
tecnológica, e nas demais esferas de maneira partícipe.
Sendo
assim, o projeto que ora apresentamos tem um caráter processual e continum,
pensado numa visão de gestão comunicativa, portanto um fazer diário para a
consolidação de um ambiente realmente educomunicativo. Temos assim organizado
até o momento nossas atividades .
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